quinta-feira, 12 de agosto de 2010

1a Leva - Brown Ale - Brassagem

Conforme anunciado, volto aqui para relatar um pouco sobre a brassagem da minha primeira leva, ocorrida no dia 07/08 sem grandes problemas.

O começo foi meio conturbado, minha máquina de macarrão não estava funcionando como eu esperava pra moer os grãos, até eu me ajeitar com ela e moer os 5kg de grão foi praticamente 1 hora.

Moinho baleado

5,1kg de malte moído

Resultado da moagem

Malte moído, fizemos a infusão na panela menor (28L) com 15 litros de água a 60° e seguimos com a rampa planejada: 64° durante 1 hora, 66° durante meia hora, 72° durante meia hora e finalmente o mash-out a 78° por 10 minutos. O cheiro de pão se alastrou pela casa assim que o malte caiu na água quente.


Infusão dos grãos

Subindo para 64°

Sogrão controlando a temperatura

Passado o processo de sacarificação veio talvez a hora mais chata e trabalhosa de toda a feitura da cerveja: filtragem e lavagem. E fica ainda mais trabalhoso quando você tem que fazer tudo na mão. Estou planejando algumas mudanças no equipamento para tornar essa parte menos massante mas também acho importante passar por essa "fase" manual, quanto mais se puder conhecer e experienciar dentro do proceso cervejeiro melhor. Ter as suas próprias experiências vale muito mais do que qualquer conhecimento teórico.

Continuando o processo, recirculei um pouco o mosto usando o próprio bagaço do malte como filtro, já que não tenho fundo falso. Estou quebrando um galho com uma peneira (daquelas de caldo de cana) enquanto não monto minha bazooka mas tenho visto que dá pra ficar um bom tempo sem nenhuma das duas opções. Explico: quando você abre a válvula da panela sai um pouco de bagaço (que você recolhe com uma caneca e volta pra panela), nisso forma-se um filtro natural com o bagaço do mosto em volta da entrada da válvula por dentro da panela, é meio difícil explicar mas é como se fosse uma bazooka formada por um bolo de casca de malte. Fato é que ao abrir a válvula sai um pouco de bagaço e pronto, daí em diante sai só mosto, bem filtradinho. Quem quizer economizar os absurdos R$ 72,00 de um fundo falso (acho uma tremenda cara de pau cobrar esse valor por uma simples chapa furada) ou o trabalho hercúleo de fazer trocentos furos numa forma de pizza siga essa dica, pode confiar que é sucesso garantido.

Bom, enquanto fazia a recirculação, os 15 litros de água da lavagem estavam esquentando na panela de fervura. Devo ter levado mais uma hora entre recirculação e lavagem, que foi feita bem lentamente, deixando 2cm de água acima da cama de grãos. Na foto abaixo vocês podem ver que na falta de uma escumadeira quebrei um galho usando um escorredor de macarrão pra fazer o sparging para evitar a criação de caminhos preferenciais pelo bagaço. No final recolhi 25 litros de mosto que foram levados para a fervura durante 1 hora.

Fazendo a lavagem com o escorredor de macarrão.
A peneira entre a panela e o galão se mostrou desnecessária, o filtro natural criado pelo bagaço na válvula foi suficiente.

Nuvem de proteínas se formando.
Aí sim a peneira serviu para alguma coisa.

Mosto em fervura intensa, prestes a receber o tempero.
Na fervura foi adicionado 20g de Lúpulo Galena faltando 60 minutos pro fim e 14g de Tradition faltando 5 minutos. O mosto foi resfriado numa bacia com 10kg de gelo, água, álcool e sal, fazendo o mosto ir de 100° para 25° em apenas 20 minutos, tempo muito bom. Enquanto o mosto esfriava eu corria pra sanitizar o airlock e o galão de água que usei como fermentador usando uma solução de iodo farmacêutico. Meu airlock já ficou manchado mas acredito que a praticidade, custo e segurança do iodo em relação ao peracético compensa. Nesse meio tempo também fiz a reidratação do fermento.

Transferi 18 litros de mosto para o galão, sacudi para oxigenar e inoculei o fermento (nesse momento o mosto estava a 23°). Fiquei receoso de ter sacudido pouco o galão afinal de contas já era 3h da manhã e eu estava babando de sono. Tentarei nas próximas levas já utilizar a solução bomba de aquário+pedra difusora pra aerar o mosto.

Com aproximadamente 12 horas já tinha krausen formado e o airlock trabalhava com boa intensidade.

Krausen no primeiro dia de fermentação

Airlock borbulhando
Agora é esperar o fim da fermentação pra poder provar um pouquinho e ter uma prévia de como vai ficar após a maturação.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

1a Leva - Brown Ale - Receita

Bom, minha primeira leva será uma American Brown Ale, um estilo fácil de se fazer e bom pra esse finzinho de inverno.

Segue um pequeno resumo da especificação do estilo pelo BJCP (tradução livre):
Aroma e sabor: Bem maltado, podendo levar notas de chocolate, caramelo, nozes e/ou tostados, com amargor médio a médio-alto. O aroma e sabor de lúpulo é tipicamente baixo a moderado e ocasionalmente cítrico. Poucos ésteres frutados e pouquíssimo ou nenhum diacetil. Maltes escuros mais carregados do que em outras brown ales. Final seco com retrogosto tanto de malte quanto de lúpulo.

Dados técnicos:
OG: 1.045 – 1.060 FG: 1.010 – 1.016
IBU: 20 – 40 ABV: 4.3 – 6.2%
SRM: 18 – 35
(texto original)

A diferença principal entre a interpretação americana e inglesa para uma Brown Ale é logicamente o maior teor de lúpulo da escola americana e como eu quero algo mais próximo de uma Brooklin Brown Ale, vou por esse caminho.

Escolhi essa receita do Leo Botto como base porém de cara já tive problemas pra encontrar os ingredientes e vou ter que fazer algumas adaptações.

Comprei os ingredientes com A Turma (Campinas) e eles não trabalham com o Carafa I, que é o malte chocolate que o Botto usou na receita. Se eu substituir integralmente pelo Carafa III que é o que eles vendem a cerveja vai ficar totalmente preta e com gosto muito forte de café e tostado e não é isso que eu quero. Como não há mais tempo hábil pra ir atrás do malte correto vou fazer uma mudança e ver no que dá, afinal de contas esse é o espírito do homebrewing. Vou dar uma carregada a mais no lúpulo também em relação à receita do Botto, trazendo o IBU pra 20.

A receita ficou assim:
Malte Pilsen - 4,1 kg
Malte Carahell - 0,5 kg
Malte Munich - 0,5 kg
Malte Carafa III - 0,025 kg
Lúpulo Galena - 15g a 60'
Lúpulo Saaz - 13g a 5'
Fermento US-05
Rampa de temperatura: Início a 60° | 64° por 60' | 66° por 30' | 72° por 30' | 78° por 5'
Estou bastante apreensivo com o resultado dessa leva mas só tem um jeito de descobrir no que vai dar.

O próximo post será o relato da brassagem, aguardem!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Métodos e Equipamentos

Fazer cerveja em casa é um tema ainda bem pouco conhecido no Brasil mas na Europa e Estados Unidos essa prática já é comum há muitos anos. Lá fora, boa parte dos cervejeiros caseiros começam fazendo suas levas utilizando de extratos de malte para depois partir para o método all-grain, no qual se faz a cerveja a partir do malte de cevada em grãos.

No Brasil não é fácil nem barato encontrar extrato de malte e por isso a grande maioria dos cervejeiros caseiros daqui já começam suando a camisa no método all-grain, o que é algo bom pois exige maior dedicação do cervejeiro no sentido de estudar e entender todo o processo de fabricação. É deste método que vamos tratar aqui.

Para se fazer cerveja à partir de grãos de malte são necessários alguns equipamentos, vendidos em kits preparados por empresas especializadas ou montados pelo próprio cervejeiro. Para tentar economizar um pouco de dinheiro decidi montar meu próprio kit, assim posso entender melhor sobre os equipamentos e ir comprando as coisas aos poucos. No final do post vou indicar também algumas empresas que vendem kits prontos a preços bastante justos.

Montando o equipamento

Meu equipamento atual é composto de:

2 caldeirões (adaptados), 1 colher de plástico atóxico, 1 termômetro digital atóxico, 1 fogareiro de alta pressão, 1 peneira para filtragem, 1 balança digital de precisão, 1 moinho de rolo (adaptado), 1 sifão e 1 airlock, sendo que apenas o airlock foi adquirido em loja especializada.

Muitos outros acessórios compõem um kit básico como por exemplo baldes de fermentação,  densímetro, proveta, erlenmeyer, chiller de cobre etc mas com o que tenho dá pra fazer cerveja sem grandes dificuldades.

A adaptação feita nos caldeirões foi a instalação de uma válvula extratora (torneira) de 1/2 polegada para facilitar a filtragem e transferência do mosto. É uma adaptação muito simples: faz-se um furo e utilizando um nipple, anéis de vedação e porca fixa-se a válvula na panela. Neste post do Mestre Cervejeiro tem uma imagem detalhada desta adaptação.

Já o moinho de rolo é na verdade uma máquina de fazer macarrão que foi adaptada e cuja regulagem de distância entre os rolos permite o ajuste fino para encontrar o ponto de moagem correto dos grãos. Como os rolos são de plástico acredito que esse moinho não vai durar muito mas espero que sirva por enquanto.

A grande maioria dos equipamentos necessários pode ser encontrada no centro de sua cidade, em lojas de equipamentos para cozinha industrial e materiais hidráulicos, o restante pode ser encomendado via internet através de empresas especializadas em cerveja artesanal, pelo Mercado Livre ou pelo eBay.

Kits prontos

As empresas abaixo fornecem kits prontos com todos os equipamentos necessários para o fabrico de cervejas e também vendem a matéria prima:

A Turma - Cerveja Artesanal (Campinas/SP)
Cervejando (Bahia)
WE Consultoria (Porto Alegre/RS)

É isso, com o tempo vou postando fotos do processo utilizando meu equipamento, as melhorias que vou fazendo nele e as dificuldades encontradas pelo caminho.

Início

Este é somente mais um blog de um cervejeiro caseiro, como tantos outros por aí que me ajudaram no estudo da arte do homebrewing.

Detalharei aqui minhas experiências, receitas, levas e informações sobre cerveja artesanal.

Prosit!